É uma coisa estranha com cogumelos selvagens: você só os vê quando conscientemente sai a procura deles. Eles são meio invisíveis se você não os conhece ou não está interessado.
Quer dizer, eu fazia trilhas há muitos anos — é um verdadeiro hobby meu — e, na verdade, nunca os notei. Via árvores, plantas, vida selvagem, montanhas, pedras, riachos, lagos e tudo mais. Mas nada de cogumelos.
No entanto, em 2015 — e por mero acaso — fotografei alguns cogumelos Chanterelle em uma das minhas caminhadas no sul da França, e uma conhecida que viu minhas fotos comentou “… esses cogumelos são muito saborosos”.
Isso mudou tudo para mim, porque eu já gostava de comer cogumelos (embora eu só conhecesse o Champignon de Paris na época) e a ideia de procurar cogumelos comestíveis de repente me atraiu muito.
Então, esse foi o início de algo bem novo para mim; minhas trilhas envolviam cada vez mais a busca por cogumelos. Na verdade, me tornei um legítimo caçador de cogumelos e bastante fanático.
Então, de repente, você começa a ver muitos cogumelos. Muitos tipos diferentes, por toda parte, e a cada nova espécie que você encontra, você quer saber se eles são comestíveis (bem, se você gosta de comer cogumelos, é claro).
Isso também significa que a identificação de cogumelos se torna algo importante, o que envolve pesquisa e comparações meticulosas, e também como prepará-los se forem comestíveis, porque você com certeza não quer ficar doente ou até morrer depois de comê-los.
Você também aprende que certos cogumelos só “florescem” em certas estações do ano, em ambientes específicos, associados a certos tipos de árvores, ou em madeira podre, ou em pastagens e campos, etc.
Isso significa que, dependendo da estação (como primavera ou outono, por exemplo) e de onde você está (o ambiente específico em que você trilha), você começará a procurar por certos tipos de cogumelos.
E quando digo “olhar”, quero dizer mesmo “olhar”, ou seja, seus olhos e cérebro se concentrarão em um determinado tipo de cogumelo que tem esta ou aquela cor e forma e cresce em um ambiente específico.
Por exemplo, se você procurar o Pleurotus albidus, seus olhos procurarão por “coisas” brancas em forma de ostra, com cerca de 4 a 10 centímetros de tamanho, que crescem em madeira morta no chão da floresta ou em troncos mortos ainda de pé.
E isso também significa que você — por exemplo — provavelmente não verá o Armillaria puiggarii amarelo-acastanhado (comumente conhecido como cogumelo-do-mel), mesmo que esteja bem perto dele. O problema é que, geralmente, você só vê o que procura ou no que você foca, mesmo que as coisas estejam totalmente visíveis e claras.
De qualquer forma, é bem engraçado, porque hoje em dia às vezes tento NÃO me concentrar em encontrar cogumelos só para poder rever todas as outras coisas bonitas da natureza. É difícil, porque depois de dez anos me ocupando com cogumelos, meu cérebro está meio que “programado” para procurá-los sempre que faço trilhas.
Em geral, hoje o mundo “invisível” dos cogumelos se tornou bastante visível para mim. E eu não gostaria de ter perdido isso por nada neste mundo. É simplesmente um prazer enorme encontrar e coletar cogumelos comestíveis, voltar para casa e comer a sua “colheita”.
📸 Registros feitos em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul – Serra Gaúcha.