Muitas pessoas tem interesse em coletar cogumelos silvestres comestíveis para seu próprio consumo. Entretanto, é necessário primeiro saber identificar a espécie correta antes de coletar e experimentar qualquer cogumelo, pois sabemos que alguns podem causar problemas de saúde se ingeridos.
Portanto, aqui estão algumas dicas para iniciantes e leigos saberem o que é preciso para começar a entender esse mundo incrível do Reino Fungi. Uma coisa é certa: é preciso ter paciência, determinação e vontade de estudar sobre, pois não é da noite para o dia que você vai começar a identificar espécies de forma segura.
Conhecer as partes dos cogumelos


Para começar, é essencial conhecer as partes dos cogumelos, como o píleo (chapéu), estipe (“pé” ou “caule”), himenóforo (parte de baixo do chapéu). Pois é verificando as características de cada parte que você vai conseguir fazer uma identificação.
A cor, tamanho, aspecto e textura do cogumelo, se o himenóforo tem lamelas ou poros, se o estipe possui anel (aquela “saia” em volta) ou não, isso tudo são coisas importantes de se notar quando se busca fazer uma identificação.
Inclusive é sempre bom tirar fotos de todas as partes do cogumelo para poder mostrar e pedir ajuda à especialistas, e para você mesmo comparar com guias de identificação e informações na internet.
O ideal é ler, ver vídeos e estudar sobre isso através de especialistas, se encontra bastante informação pela internet mas é bom também sempre checar as fontes destas informações.
Lembre-se que as características dos cogumelos podem variar bastante conforme o estágio de crescimento e variações climáticas.
Utilizar guias de identificação de cogumelos brasileiros


Nos últimos anos felizmente vem sendo publicados alguns guias de identificação de cogumelos que ocorrem no Brasil, alguns mais gerais, outros focados nos comestíveis, e outros focados em regiões bem específicas. Abaixo cito alguns:
Primavera Fungi | Guia de Fungos do Sul do Brasil
O Primavera Fungi – Guia de Fungos do Sul do Brasil, do biólogo Jeferson Müller Timm, é focado em cogumelos que ocorrem no sul, mas muitas espécies descritas ocorrem também pelo país todo. Ele descreve mais de 170 espécies de cogumelos/macrofungos e também oferece várias informações que são importantes para começar nessa jornada de caçar cogumelos selvagens. O autor segue ampliando, revisando e melhorando este guia, que atualmente está na sua 3ª edição. Eu tenho a 2ª edição (comprei em 2022), e vale a pena para quem se interessa pelo tema.
O autor também tem o livro Cogumelos Comestíveis no Brasil, que é um guia de bolso com 54 espécies de cogumelos selvagens comestíveis que ocorrem no país.
FANCs de Angatuba | Larissa Trierveiler Pereira
Outra opção é o eBook FANCs de Angatuba – FANC significada Fungos Alimentícios não convencionais (tipo PANC mas de fungos, rs). Neste guia a autora traz fotos e descrições de 45 espécies de cogumelos comestíveis que ocorrem em Angatuba e região, mas muitos também são encontrados na maior parte do país. Este livro eu não tenho, mas imagino que deva ser bem útil e interessante, especialmente para quem mora nesta área do interior de São Paulo. Recentemente a autora lançou a versão impressa também, mais informações no insta dela @fancnacabeca.
Guia para a observação de cogumelos | Micotrilhas da Bahia
O projeto Micotrilhas da Bahia lançou este eBook grátis que é um levantamento dos cogumelos encontrados nas trilhas de observação de cogumelos que eles oferecem; além de oferecer um mundo de informações sobre fungos em geral em linguagem acessível para leigos. Muito interessante para se conhecer muitos dos cogumelos que ocorrem na Bahia. Dá pra baixar aqui.
Guia de Macrofungos: Mantiqueira e Cantareira
O Guia de Macrofungos: Mantiqueira e Cantareira é outro eBook gratuito (dá pra baixar o pdf aqui). Como os autores explicam, este guia surgiu como uma ideia de TCC na área de Ciências Biológicas, conduzido por duas pessoas: Gabriel Carvalho Camargos (autor e aluno) e Elisa Esposito (colaboradora e orientadora). A pesquisa realizou um levantamento de 42 espécies de macrofungos nas regiões da Mantiqueira e Cantareira (estado de São Paulo), se tornando bem interessante para quem quiser aprender mais sobre os fungos que ocorrem nessas áreas.
Fungos Silvestres da Amazônia Paraense: é de comer?
O eBook gratuito “Fungos Silvestres da Amazônia Paraense: é de comer?”, traz informações sobre 17 espécies de cogumelos que ocorrem na região Oeste do Pará, incluindo descrição, hábito e habitat, formas de consumo, período de ocorrência e sua atual distribuição no Brasil. Dá para baixar o pdf aqui.
Pedir ajuda aos especialistas


Outra dica é sempre que possível pedir ajuda aos especialistas e pessoas com mais experiência que você tiver contato. Isso pode ser feito também através de grupos do Facebook que ajudam com a identificação, como o “Cogumelos do Brasil“.
Participar de sites como o iNaturalist e o Mushroom Observer também é muito útil, pois possuem comunidades de especialistas e pessoas com experiência e interesses afins que podem auxiliar na identificação, além de oferecerem informações sobre as espécies. E postando suas observações nestes sites também ajuda quem está fazendo pesquisas científicas sobre o tema a ver em que regiões ocorrem quais fungos.
Google Lens e IA – não fazem milagre


Utilizar o Google Lens para identificar um cogumelo pode parecer simples e fácil, mas não é algo confiável. Isso serve também para os assistentes de IA cada vez mais populares hoje em dia.
A identificação por esse tipo de ferramenta automática depende muito da qualidade da foto e do ângulo que o cogumelo está, por exemplo. E do banco de dados usado para procurar uma “combinação”. Isso pode causar umas sugestões bem erradas, ou sugestões de cogumelos que simplesmente não ocorrem no Brasil, o que só te faz perder tempo e chegar em uma conclusão errada.
Porém, se for uma foto de boa qualidade e se for um cogumelo bem conhecido como um Amanita muscaria ou um Boletus edulis (Porcini), ou cogumelos com características muito únicas, é provável que ele irá identificar corretamente. Então de fato pode ser útil. O que com certeza não dá pra fazer é confiar 100% nessas ferramentas, e sim usá-las como um ponto de partida, uma sugestão, e buscar a confirmação desta sugestão por outros meios.
Hoje em dia o que geralmente faço se não tenho ideia nenhuma de “quem” seja o cogumelo, é sempre primeiro postar no iNaturalist e ver a sugestão automática de lá. O iNaturalist oferece sugestões de identificação com base nas próprias observações e identificações dentro da plataforma, levando em conta a localização geográfica, o que gera um banco de dados mais confiável. Muitas vezes também confiro no Google Lens, e no livro Primavera Fungi, para confirmar ou buscar outras sugestões.
Depois aguardo confirmação de especialistas no iNaturalist, pergunto a algum micólogo conhecido, ou posto no grupo do Facebook. Porém, infelizmente, nada disso é garantia de que você terá ajuda ou conseguirá identificar o cogumelo, escrevo mais sobre isso abaixo.
Hoje em dia com a popularização da IA e assistentes como o ChatGPT e Gemini, muitas pessoas também têm usado eles para identificação. Eu já testei enviando fotos de alguns cogumelos menos conhecidos por lá e só obtive sugestões bem erradas. Sobre todas essas plataformas, confio mais na sugestão automática do iNaturalist, e mesmo ela não é 100% confiável, é bom repetir e deixar claro.
Nem todo cogumelo é possível identificar


Porém, um fato precisamos aceitar: muitos cogumelos nunca serão identificados por nós, entusiastas leigos. É frustrante, mas é a realidade. Muitas espécies são impossíveis de identificar apenas por fotos/aparência, sendo necessário análises especificas que só cientistas conseguem fazer.
Além disso, o Reino Fungi ainda é muito desconhecido. As estimativas mais recentes apontam que existem cerca de 2,5 milhões de espécies de fungos no mundo, e dessas, apenas 155 mil espécies são descritas e conhecidas. No Brasil, a estimativa é de cerca de 150 a 264 mil espécies, das quais 13.090 a 14.510 são conhecidas (informações do artigo “Cogumelos comestíveis no Brasil: estado atual do conhecimento, avanços e perspectivas”, disponível aqui).
Nem todos esses formam cogumelos, mas já dá para ter uma ideia da quantidade enorme de fungos desconhecidos que estão por aí, esperando para serem descobertos e descritos! Então, a maioria das pessoas pode, no máximo, tirar foto, admirar, e ficar na curiosidade mesmo.
Falo mais sobre a minha experiência e fascínio por tudo que é tipo de cogumelo, e a vontade de identificar tudo que encontro para aprender mais sobre. Mas quem focar somente em identificar os cogumelos comestíveis já conhecidos, com certeza vai conseguir isso de forma mais fácil!
Por fim, com o tempo, estudos e experiência em campo, você vai aprendendo e começando a identificar de forma cada vez mais fácil, especialmente certas espécies que você já encontrou várias vezes.
Outras informações úteis para a identificação de cogumelos são a cor dos esporos (explico como fazer uma esporada neste post) e buscar sempre os nomes científicos (explico a questão dos nomes científicos neste post).


