Muitas pessoas tem interesse em coletar cogumelos silvestres comestíveis para seu próprio consumo. Entretanto, é necessário primeiro saber identificar a espécie correta antes de coletar e experimentar qualquer cogumelo, pois sabemos que alguns podem causar problemas de saúde se ingeridos.
Portanto, aqui estão algumas dicas para iniciantes e leigos saberem o que é preciso para começar a entender esse mundo incrível do Reino Fungi. Uma coisa é certa: é preciso ter paciência, determinação e vontade de estudar sobre, pois não é da noite para o dia que você vai começar a identificar espécies de forma segura.
Conhecer as partes dos cogumelos
Para começar, é essencial conhecer as partes dos cogumelos, como o píleo (chapéu), estipe (“pé” ou “caule”), himenóforo (parte de baixo do chapéu). Pois é verificando as características de cada parte que você vai conseguir fazer uma identificação.
A cor, tamanho, aspecto e textura do cogumelo, se o himenóforo tem lamelas ou poros, se o estipe possui anel (aquela “saia” em volta) ou não, isso tudo são coisas importantes de se notar quando se busca fazer uma identificação.
Inclusive é sempre bom tirar fotos de todas as partes do cogumelo para poder mostrar e pedir ajuda à especialistas, e para você mesmo comparar com guias de identificação e informações na internet.
O ideal é ler, ver vídeos e estudar sobre isso através de especialistas, se encontra bastante informação pela internet mas é bom também sempre checar as fontes destas informações.
Lembre-se que as características dos cogumelos podem variar bastante conforme o estágio de crescimento e variações climáticas.
Utilizar guias de identificação
Em muitos países existem guias de identificação com as espécies locais, com fotos em todos os estágios de crescimento e informações super detalhadas sobre cada espécie, o que infelizmente ainda não é o caso no nosso país.
Mas por aqui temos o Guia de Fungos do Sul do Brasil do Primavera Fungi que é focado em cogumelos do sul, mas muitas espécies descritas ocorrem pelo país todo. Ele descreve mais de 170 espécies de cogumelos/macrofungos e também oferece várias informações que são importantes para começar nessa jornada de caçar cogumelos selvagens. O autor segue ampliando, revisando e melhorando este guia, que atualmente está na sua 3ª edição.
O Primavera Fungi também tem o livro Cogumelos Comestíveis no Brasil, que é um guia de bolso com 54 espécies de cogumelos selvagens comestíveis que ocorrem no país.
Outra opção é o eBook FANCs de Angatuba – FANC significada Fungos Alimentícios não convencionais (tipo PANC mas de fungos, rs). Neste guia a autora traz fotos e descrições de 45 espécies de cogumelos comestíveis que ocorrem em Angatuba e região, mas muitos também são encontrados na maior parte do país. Este livro eu não tenho, mas imagino que deva ser bem útil também, especialmente para quem mora nesta área do interior de São Paulo.
Pedir ajuda aos especialistas
Outra dica é sempre que possível pedir ajuda aos especialistas e pessoas com mais experiência que você tiver contato. Isso pode ser feito também através de grupos do Facebook que ajudam com a identificação, como o “Cogumelos do Brasil“.
Participar de sites como o iNaturalist e o Mushroom Observer também é muito útil, pois possuem comunidades de especialistas e pessoas com experiência e interesses afins que podem auxiliar na identificação, além de oferecerem informações sobre as espécies. E postando suas observações nestes sites também ajuda quem está fazendo pesquisas científicas sobre o tema a ver em que regiões ocorrem quais fungos.
Google lens – não confiável, mas pode ser útil
Utilizar o google lens ou google imagens para identificar um cogumelo é uma faca de dois gumes. Muitas vezes ele sugere umas coisas nada a ver (depende muito da qualidade da foto e do ângulo que o cogumelo está, por exemplo); ou sugere cogumelos que simplesmente não ocorrem no Brasil, o que só te faz perder tempo e chegar em uma conclusão errada.
Porém, principalmente para cogumelos mais conhecidos como um Amanita muscaria ou Boletus edulis, por exemplo, é bem provável que ele irá identificar corretamente. Então de fato pode ser útil! O que com certeza não dá pra fazer é confiar nele 100%, e sim usá-lo como um ponto de partida, sempre buscando confirmar a identificação por outros meios.
O que geralmente faço é ver as sugestões de identificação dele e pesquisar mais sobre, postar no iNaturalist (o site oferece sugestão de identificação baseada nas fotos também, que em geral é bem melhor) e ver se ocorrem no Brasil ou não, conferir o Guia do Primavera Fungi, e assim tentar chegar pelo menos no gênero e aguardar confirmação de especialistas. Se não consigo informação/confirmação nenhuma lá no iNaturalist geralmente peço ajuda no grupo do Facebook também.
Porém infelizmente nada disso é garantia de que você terá ajuda ou conseguirá identificar o cogumelo, escrevo mais sobre isso abaixo.
Existem também outros aplicativos e sites de identificação de cogumelos por imagens pela internet afora que não testei, até porque a maioria é voltado a funga de países específicos e não do Brasil, então não creio que seja tão útil pra nós ou melhores do que o google lens e a sugestão automática do iNaturalist já fornecem.
Nem todo cogumelo é possível identificar
Porém, um fato precisamos aceitar: muitos cogumelos nunca serão identificados por nós, entusiastas leigos. É frustrante, mas é a realidade. Muitas espécies são impossíveis de identificar apenas por fotos/aparência, sendo necessário análises especificas que só cientistas conseguem fazer.
Além disso, o reino Fungi ainda é muito desconhecido, estima-se que existam cerca de 1.5 milhões de espécies de fungos (chutando por baixo, pois já vi que estudos mais recentes apontam para estimativas bem maiores), mas apenas cerca de 150,000 foram identificadas e descritas até agora, ou seja, somente 10%.
Então dá para ter uma ideia de quantos funguinhos desconhecidos estão por ai esperando para serem descobertos! E pessoas leigas como eu, no máximo podem tirar foto, admirar, e ficar na curiosidade mesmo, rs.
Falo mais sobre a minha experiência e fascínio por tudo que é tipo de cogumelo, e a vontade de identificar tudo que encontro. Mas quem focar somente em identificar os cogumelos comestíveis já conhecidos, com certeza vai conseguir isso de forma mais fácil!
Por fim, com o tempo, estudos e experiência em campo, você vai aprendendo e começando a identificar de forma cada vez mais fácil, especialmente certas espécies que você já encontrou várias vezes.