No final de novembro de 2024 finalmente encontrei um Frango da floresta pela primeira vez! Estava na minha lista de desejos a muito tempo, foi uma grande alegria encontrar essa espécie.
Este é um fungo selvagem comestível do gênero Laetiporus, possivelmente Laetiporus gilbertsonii que vendo pelo iNaturalist parece ser a espécie mais comum de ocorrer aqui no Brasil.
Perguntando ao micólogo Denis Zabin, ele disse que provavelmente seja essa espécie mesmo ou algo próximo, mas que esse grupo de fungos ainda precisa de mais estudos aqui na região neotropical. No final do post tem alguns links úteis inclusive de artigos científicos sobre esse gênero na América do Sul e Brasil, para quem quiser saber mais.
Também é conhecido por outros nomes populares como Galinha do bosque, Galinha do mato, fungo-galinha, Cogumelo galinha e por ai vai. Em inglês é conhecido por Chicken of the woods, Chicken mushroom ou Sulphur shelf.
Como identificar um cogumelo Frango da floresta?
São orelhas de pau, tem uma consistência firme e uma cor laranja forte com as pontas mais amareladas. Crescem formando “prateleiras” um sobre os outros, podendo chegar a um bom tamanho, mais de 20 cm.
A parte de baixo do cogumelo (himenóforo) é amarela e possui pequenos poros. A textura deles é bem carnosa e seca, semelhante a um peito de frango.
Aqui no Brasil eles mais comumente crescem sobre eucaliptos, tanto madeira morta quanto árvores vivas, mas já vi relatos de que também podem ocorrer em árvores nativas.
Este dia encontramos eles em três eucaliptos diferentes, 2 já cortados (madeira morta) e 1 crescendo sobre um eucalipto ainda vivo. O mais maduro já estava começando a ser atacado por muitas lesminhas (dá pra ver na foto acima), e os mais jovenzinhos que encontramos (foto 8) deixamos por lá. No fim deu pra coletar bastante, acho que deu 1,5kg. Nesse vídeo no meu Instagram dá pra ver eu coletando e mostra bem a textura deles também.
Cogumelo Frango da Floresta, experimentando pela primeira vez
Este fungo não pode ser consumido cru, é recomendado cozinhar/refogar por no mínimo 10 minutos, segundo as informações que encontrei (as referências estão no fim do post). Li que algumas pessoas podem ter alergia a ele e ter reações adversas, então é bom provar só um pouquinho de primeira.
Provamos um pouquinho no almoço e como deu tudo certo comemos mais um pouco na janta. Depois disso, passei a semana comendo eles e testando diferentes receitas. O bom é que eles duram muito bem na geladeira, o último pedaço fui comer 1 semana depois de coletar e ele ainda estava perfeito.
Não são cogumelos “normais”, que geralmente são frágeis e não se pode nem molhar para não estragar a textura, estes aguentam de tudo sem perder suas características; de fato eles são bem firmes e secos e continuam assim não importa muito a forma de preparo.
Realmente lembra a um peito de frango seco – tem gente que gosta e gente que não. O marido não curtiu essa textura deles, foi um pouco decepcionante pra ele, rs. Ele inclusive sentiu um leve gosto amargo neles, que eu não senti. Procurando na internet, em inglês, a gente até achou outras pessoas comentando sobre isso também, mas não sei por que varia de pessoa a pessoa.
Enfim, eu achei a textura estranha no começo mas logo me acostumei e gostei bastante de ir adicionado ele em vários pratos. O sabor dele também gostei, e é bem suave, então é legal investir nos temperos e molhos para acompanhar. E por sinal, não achei que tem gosto de frango como já li em alguns relatos pela internet, pra mim é só a textura que lembra mesmo.
Receitas com o cogumelo Frango da Floresta
Não sou chef nem vou passar aqui receitas gourmet com ingredientes mirabolantes; são receitas e modos de preparo bem básicos que fui testando e que dão uma ideia das inúmeras possibilidades de preparo com esse cogumelo tão versátil.
Frango da Floresta refogado e na salada
O modo mais clássico de preparar qualquer cogumelo é refogar com um pouco de óleo/azeite/manteiga por alguns minutos. Assim foi nosso primeiro teste, mas antes li que é bom primeiro refogar ele com um pouco de água, e só depois que secar adicionar o óleo e de fato refogar; isso ajuda a manter o cogumelo mais tempo no fogo, pois ele é muito seco e se for só refogar com óleo iria durar no máximo uns 5 minutos e já começar a queimar, e como a recomendação é que fique no fogo no mínimo 10 minutos, essa etapa de “cozinhar” ele um pouco com água antes é bem útil. E acreditem, não muda absolutamente em nada a textura ou gosto, então dá pra fazer se medo.
Da primeira vez cortei em tiras mais grossas, mas recomendo cortar em tiras mais finas só pra cozinhar e refogar melhor e mais rápido. Na hora de adicionar o óleo se adiciona também os temperos, eu primeiro fiz só com um pouquinho de sal e pimenta do reino pois queria sentir o gosto do cogumelo. Aqui dá pra inventar e adicionar temperos a gosto, shoyu, também refogar com alho e cebola, etc.
Feito isso, dá também para adicionar ele em literalmente qualquer prato. Eu gostei bastante de adicionar na salada, a textura firme e seca dele combina bem com uma salada bem temperada. Para temperar minhas saladas geralmente faço um molhinho básico com azeite de oliva, shoyu, limão, sal, curry, pimenta do reino e alho desidratado.
Nuggets de Frango da Floresta
Como este fungo tem uma textura firme e carnosa que parece frango, nuggets (empanado) é uma das receitas comuns de se fazer com ele. Existem mil receitas diferentes de como empanar qualquer coisa, ai é só usar a sua preferida. A minha dica é temperar super bem as farinhas, e fazer algum molhinho de acompanhamento, pois ele fica bem seco. Eu usei farinha de milho (fubá) pra empanar, mas dá pra usar qualquer uma que preferir.
Dá bem certo e fica bom, a textura firme e carnosa realmente lembra a frango. Porém fiz apenas uma vez e não tenho muita experiência nessas coisas de empanar e frituras do tipo, então senti falta de ter adicionado mais sal e tempero. Mas mergulhando eles em algum molhinho nem que seja maionese, mostarda ou ketchup, já funciona.
Porém em uns 5, 6 minutos fritando os nuggets já estavam pronto, ai fiquei meio em dúvida se ele “cozinhou” o suficiente, se não ficou nada cru no meio, pois como disse acima, esse cogumelo não se pode comer cru. Mas enfim, não me deu nenhuma reação adversa, então creio que não ficou nada cru. E também preferi fazer nuggets pequenos e mais finos, não deixar pedaços de cogumelo muito grossos, já pensando nisso.
Frango da Floresta na sopa
Adoramos sopa aqui em casa, adicionei este cogumelo em duas sopas diferentes, inclusive uma que fiz na panela de pressão pois tinha espiga de milho junto – ficou 30 min na pressão e ainda manteve a mesma textura seca de sempre, rs. É impressionante, não dá pra comparar com outros cogumelos mesmo.
No fim ele não adicionou muito sabor a sopa, mas eu gostei bastante da textura extra dele entre os legumes. E como cogumelos em geral tem muitos nutrientes, sempre é válido adicionar.
Cogumelo Frango da Floresta desidratado e transformado em pó
Li pela internet que ao desidratar este cogumelo ele não volta “ao normal”, ou seja, o processo de reidratação não funciona muito bem. Mas que ao transformar ele em pó vira um bom tempero e um agente “engrossador” de caldos.
Portanto testei e deu muito certo, quando desidratados dá pra quase desmanchar eles com as mãos, ficam bem “esfarelentos”. Bati no processador alguns minutos e o pó estava feito – ficou alguns pedacinhos maiores aqui e ali, mas nada de mais. Cortando eles realmente todos do mesmo tamanho e grossura eles acabariam secando mais uniformemente e isso se resolveria.
Um dia adicionamos o pó na sopa e realmente ajuda a dar uma engrossada e dependendo da quantidade também dá um sabor, pois eles ficam mais concentrados. E também colocamos no molho de tomate para comer com massa, que faz o mesmo efeito de engrossar e saborizar. Gostamos bastante de utilizar ele assim, o marido principalmente pois não precisa mais sentir a textura que ele não curtiu, rs.
Molho para massa com Frango da Floresta
Picar em cubinhos, refogar bem antes, adicionado o que preferir (alho, cebola, etc) e depois cozinhar junto com um molho de tomate ou molho branco. Eu geralmente coloco um pouco de brócolis, abobrinha ou chuchu picadinhos também no molho. Depois é só adicionar na massa de preferência e ser feliz. Bem simples e prático, eu gostei bastante. Como dá pra ver na foto acima eu exagerei um pouco na proporção de cogumelos pra molho, mas ficou uma delícia mesmo assim, rs.
Por fim, testei também deixar ele de molho em água dentro da geladeira pra ver se eles ficam menos secos; eles ficaram 2 dias de molho e mesmo assim não adiantou nada, rs. Depois de refogar eles ficaram com a mesma textura de sempre.
Por enquanto foram estes meus testes; espero encontrar eles de novo pois gostei bastante. Revisitamos a área onde deixamos aquele jovem uns 9 dias depois e ele ainda estava praticamente do mesmo tamanho, creio que eles demoram bastante pra crescer ou algo deu errado no crescimento destes, rs. Vamos ficar de olho, e pelo menos agora já sabemos que eles estão por aquela área!
⚠ Procure sempre informações, guias e a confirmação de especialistas antes de decidir consumir qualquer cogumelo selvagem. Nunca confie apenas em comparação de fotos online.
📸 Registro feito em 30/11/24 em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul – Serra Gaúcha.
Referências e Links Úteis
- Sauteed Chicken of the Woods | Forager Chef
- Chicken of the Woods Wings, Fried, Baked, or Air Fried | Wild Vegan Flower
- What are the Laetiporus species present in southern South America?
- The genus Laetiporus in Brazil | MIND.Funga (PDF)