Existem cerca de 120 espécies descritas no gênero Lentinus. Várias delas tem algumas características bem fáceis de identificar, como seu formato de “funil”, uma textura bem firme que lembra a couro, e a presença de pelinhos em cima do chapéu.
Em inglês os cogumelos desse gênero são conhecidos como Woodcaps e Sawgills, e em português o nome comum de algumas espécies é Funil peludo ou Peludinho.
Pesquisando pela internet, e depois confirmando com o biólogo Denis Zabin, vi que não existe registro de nenhuma espécie de Lentinus que seja tóxica, e espécies do gênero Panus, que podem ser confundidas pelas suas características similares, também são comestíveis.
É uma boa notícia, pois é difícil conseguir diferenciar entre certas espécies. Neste post vou focar nas espécies Lentinus berteroi e Lentinus crinitus, que são muito parecidas e em geral as mais comuns que ocorrem aqui no Brasil.
Lentinus crinitus
Possui formato de funil, pelos no chapéu e himenóforo (parte de baixo) com lamelas. Seu tamanho é em média de 5 cm de altura e diâmetro. Conhecido em inglês como Fringed Sawgill.
O estipe do Lentinus crinitus, comparando com o L. berteroi, costuma ser mais claro e com umas pontuações fibrilosas mais escuras, mas não é coberto por pelos.
Pesquisando descobri que, além de comestível, este cogumelo possui compostos que também tem usos medicinais, podendo ser usados na preparação de produtos nas áreas de biomedicina e farmácia, e ainda na indústria cosmética.
Essas dicas sobre como diferenciar entre estas duas espécies foram do Denis Zabin lá no iNaturalist. Mesmo assim continua sendo bastante difícil a identificação da espécie exata, pois certas características podem variar bastante.
Lentinus berteroi
Possui formato de funil, pelos no chapéu e himenóforo (parte de baixo) com lamelas. Seu tamanho é em média de 5 cm de altura e diâmetro.
Costuma ser bem mais peludo que o L. crinitus, mas isso pode variar bastante. A margem do píleo (chapéu) costuma ser bem mais curvada para dentro (involuta), o estipe mais escuro e também peludo, mais intensamente na base.
Outra característica que ajuda na diferenciação é que no himenóforo, onde as lamelas se inserem no estipe (“pé” ou “caule”), no L. berteroi essa região costuma a apresentar uma superfície que parece ter poros.
Alguns que encontrei e fotografei tinham sido identificados como L. berteroi lá no iNaturalist mas depois corrigidos para L. crinitus, então no fim creio que ainda não encontrei essa espécie.
Onde e quando encontrar cogumelos Lentinus
Estes cogumelos crescem sobre troncos/madeira em decomposição. É comum até ver eles na cidade, em tocos de árvores cortadas. Porém lembre-se de só coletar para consumo em áreas preservadas, longe do centro urbano e da poluição.
Aqui em São Francisco de Paula (Serra Gaúcha) surgem na época da primavera e verão, depois de bastante chuva e umidade, porém são bem resistentes e até aguentam períodos de seca. Em locais em que a temperatura é amena durante o ano todo, vai depender mais de quando é a época chuvosa da região para eles surgirem.
Vendo pelo iNaturalist, estas espécies ocorrem em praticamente o país todo.
Estas duas espécies de Lentinus são também tradicionalmente consumidas pelos indígenas Sanöma (subgrupo dos Yanomami), e conhecidas por eles como siokoni amo, nome que também abrange algumas outras espécies do gênero Panus. Pesquisando descobri que este nome significa “ânus peludo”, rs. Eles geralmente assam os cogumelos na brasa, ou cozinham em água.
Eu já testei alguns modos de preparo com eles, leia mais sobre neste post.
No iNaturalist tem registro de 11 espécies de Lentinus aqui no Brasil, para quem se interessou pelo gênero vale a pena dar uma conferida.
📸 Registros feitos em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul.