Publicado: nov 5, 2024
Atualizado: nov 12, 2024
Escrito por: Helissa

A primavera é época destes lindos peludinhos! Temos encontrado muitos nas nossas trilhas no interior de matas de araucária nessa primavera de 2024. Essa espécie cresce sobre madeira em decomposição, e é um dos vários cogumelos comestíveis da Mata Atlântica, além de ocorrer também em outros biomas.

Esta e outras espécies de Lentinus são tradicionalmente consumidas pelos indígenas Sanöma (subgrupo dos Yanomami), e conhecidas por eles como Siokoni amo, nome que também inclui algumas outras espécies do gênero Panus. Este nome se traduz como “ânus peludo”, agora sempre penso nisso quando vejo eles, rs.

Cogumelo Lentinus crinitus – Testando modos de preparo

Uma abundância de cogumelos Lentinus crinitus crescendo sobre troncos.

Apesar do Lentinus crinitus ser um cogumelo comestível, é difícil achar um modo de preparo para de fato consumi-los, pois tem uma textura como de couro, bem fibrosos e duros.

As informações que achei pela internet foram de que os indígenas Sanöma geralmente assam eles na brasa, ou cozinham em água, então como temos achado muitos deles ultimamente resolvi testar alguns métodos diferentes.

A primeira etapa é sempre remover os pelinhos deles, pois podem causar irritação na garganta – esta informação está presente no Guia de Fungos do Primavera Fungi. Eu removo raspando com uma faca, ou simplesmente enxaguando eles embaixo da torneira e removendo com os dedos mesmo, saem fácil e esse é um dos cogumelos que suporta ser lavado sem perder sua textura.

Após isso a primeira vez que experimentei fiz um modo de preparo básico de cogumelos, refogado no óleo por alguns minutos. Tem um sabor gostoso, que até me lembrou a carne bovina, mas a textura segue bem dura e coriácea, então só mastiguei e cuspi fora o “bagaço”, rs. Li a dica de deixar eles de molho antes de refogar para já amolecer eles um pouco, e tentei assim também, mas não adiantou de nada, rs.

Lentinus crinitus, detalhes do chapéu peludinho e do himenóforo (parte de baixo) com lamelas e pontinhos pretos no estipe.

Depois tentei desidratar eles para fazer um pó e poder usar de tempero, porém mesmo desidratados ainda ficam coriáceos e com o meu processador foi difícil transformar eles em pó, consegui só bem pouquinho, talvez funcione melhor com processador mais potente.

A próxima tentativa foi assar eles no forno pra virar tipo um chips, e até que deu mais ou menos certo, mas precisam de bastante tempo pra ficarem crocantes de verdade e perderem a textura de couro e é difícil acabarem não queimando um pouco.

No fim o modo de preparo mais prático e saboroso que encontrei até agora foi ferver eles (fiz por cerca de 15 minutos) e depois descartar, guardando só o caldo, pois mesmo fervendo por um tempo longo eles seguem duros, rs. O caldo fica bem saboroso e dá pra adicionar em sopas, risotos ou qualquer outra receita, além de, acredito, manter as propriedades nutricionais e medicinais do cogumelo.

Por enquanto foram estas as tentativas, se alguém tiver outras dicas de preparo adoraria saber, é só entrar em contato. E para saber mais sobre os cogumelos comestíveis encontrados no Brasil, confira este post.

Atualização: Achei mais algumas dicas e receitas de preparo de cogumelos Lentinus. No site do Cogumelo Yanomami, onde é vendido um mix de cogumelos comestíveis da Amazônia, incluindo Lentinus sp., que vem desidratados, a indicação para prepará-los é deixar de molho água gelada, mantendo na geladeira, durante 2 horas.

Eles seguem dizendo que o caldo coado do cogumelo pode ser usado em sopas e risotos (ou seja, não precisaria nem ferver) e os cogumelos finamente picados podem ser refogados ou preparados em risotos e massas. Achei interessante isso de manter de molho em uma temperatura fria, não sei qual o propósito, achava até que era sempre melhor deixar de molho em água mais morna ou quente para melhor reidratar os cogumelos. Ainda tenho que testar pra ver se faz alguma diferença.

E também achei outra receita no Facebook do Primavera Fungi, de um Hambúrguer com Lentinus crinitus. O modo de preparo seria remover os pelinhos queimando a superfície, deixar de molho por pelo menos uma hora e depois cortar em tiras finas e refogar. Ainda não testei cortando em tiras bem finas, talvez funcione melhor e torne eles mais “mastigáveis”, rs.

📸 Registros feitos na Primavera de 2024 em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul – Serra Gaúcha.

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