Quando se fala em cogumelos selvagens comestíveis, muitas pessoas logo pensam em espécies como o popular Porcini (Boletus edulis), ou outros cogumelos introduzidos (não-nativos) que crescem em associação com pinheiros do gênero Pinus.
Realmente eles são deliciosos, e na temporada deles (outono e inverno) podem crescer em bastante abundância, tornando a caça e coleta uma alegria imensa.
Também é um pouco mais fácil de sair a caça deles, pois é simples identificar os pinheiros e saber que existe a chance de, na época certa, encontrar certos cogumelos embaixo e na volta deles.
Porém, há muitos cogumelos comestíveis nativos do Brasil que também são muito deliciosos e nutritivos. Mas encontrá-los não é tão óbvio.
Por um lado, encontrar uma área de mata nativa é mais fácil e acessível para a população em geral – pois não são todos os lugares que tem plantações de Pinus, e estes cogumelos não-nativos geralmente precisam de altitude e frio para nascer, limitando ainda mais as regiões propícias para a caça destas espécies.
Mas por outro lado, uma mata nativa preservada é absurdamente rica e diversa, além de em geral mais densa que um bosque de Pinus, tornando a visibilidade e a probabilidade de encontrar os cogumelos desejados e na hora certa (sem estarem jovens ou velhos demais) mais difícil.
Estes cogumelos nativos crescem sobre troncos/madeira em decomposição e/ou no solo, as vezes escondidos sobre a serrapilheira, e também geralmente não crescem com tanta abundância.
Porém, não é nada impossível e é mais uma questão de frequência e de treinar os olhos para reconhecer os fungos desejados.
Se você visitar uma área e encontrar em um tronco alguns Pleurotus albidus, por exemplo, já sabe que lá estão os micélios desse cogumelo e é provável que irá encontrá-lo lá mais vezes quando a temperatura e umidade estiverem certas para seu crescimento.
Assim, em breve você irá acumulando conhecimento de áreas onde já encontrou certos cogumelos, além de ir reconhecendo áreas propícias com maior probabilidade de um encontro na sua caça de cogumelos selvagens.
Lembre-se também de tomar alguns cuidados ao caçar cogumelos na Mata Atlântica. Mesmo em um ambiente com trilhas bem demarcadas e abertas é comum achar troncos e bastante madeira em decomposição justamente fora das trilhas, então é provável que você vai entrar em áreas mais densas de vez em quando.
Por isso, eu recomendo sempre ir de galocha ou outro sapato fechado com perneira/caneleira, pois a presença de jararacas e cascavéis em áreas de mata preservada não é incomum.
Sempre faça barulho com algum pedaço de madeira ou bastão de caminhada antes de se agachar ou chegar próximo de áreas densas, só pra espantar qualquer “coisa” que puder estar na espreita.
Fique de olho também em aranhas, mosquitos (sempre recomendável um repelente), e lagartas – não encoste a mão em qualquer árvore ou planta na trilha sem verificar se não tem nada lá. Existem espécies bem tensas de taturanas que podem causar um estrago.
Isto são em geral as precauções normais de se fazer uma trilha. Os bichinhos da mata estão tranquilos em seu habitat natural e não são agressivos por nada, a maioria dos acidentes ocorre por falta de atenção, pelo “susto” de ambas as partes, ou pelo instinto de proteção em relação à filhotes ou toca.
Aqui na Serra Gaúcha estes cogumelos nativos são mais comuns de se encontrar na primavera e verão, pois a maioria das espécies aprecia uma temperatura mais amena. Mas dependendo de onde você estiver, poderá encontrar eles o ano todo com mais facilidade.
Também tenha em mente que cogumelos gostam de umidade, então épocas em que chove mais e que a umidade está mais alta são o melhor momento para sair a caça.
Por fim, não esqueça, é claro, de sempre confirmar a identificação de um cogumelo antes de consumi-lo. Existem espécies tóxicas, então não arrisque sua saúde ao provar cogumelos selvagens sem conhecimento.
Para mais fotos e informações sobre espécies de cogumelos da Mata Atlântica que já encontrei por aqui em São Chico, veja meu post Cogumelos comestíveis da Mata Atlântica.
📸 Registros feitos em São Francisco de Paula, Rio Grande do Sul.