Publicado: dez 15, 2023
Atualizado: abr 30, 2024
Escrito por: Helissa

O cogumelo Amanita rubescens, também conhecido com Blusher, é considerado comestível mas com algumas ressalvas. Ele cresce em associação com árvores do gênero Pinus, geralmente no período do outono e inverno, mas aqui em São Francisco de Paula (nesse ano de 2023 pelo menos) cresceram em uma abundância impressionante durante toda a primavera.

Desde a primeira vez que encontrei ele no outono li que era tóxico quando ingerido cru, podendo causar anemia, mas comestível com o modo de preparo certo. Porém não tinha pesquisado a fundo para saber sobre qual era esse método de preparo, e se valia a pena provar mesmo, pois é claro não queria arriscar nenhum efeito prejudicial.

Como acabei encontrando dezenas e dezenas deles por semanas durante a primavera toda (nesse reels dá pra ver um dos meus últimos encontros), vendo em todos os estágios de crescimento e tendo certeza da identificação, sendo confirmada por especialistas lá no iNaturalist e também pelo insta, resolvi pesquisar mais a fundo um método de preparo seguro e provar!

Isso só foi possível em inglês mesmo, em português até se acha uma ou outra informação (na maioria em sites de Portugal), mas sempre coisas muito vagas do tipo “é preciso cozinhar bem”.

Amanita rubescens adulto e jovem, sempre tão lindos! Encontrados em São Francisco de Paula (Serra Gaúcha, Brasil), na primavera de 2023.

Mas em alguns sites em inglês dá para achar informações um pouco mais claras, porém as vezes diferentes entre si. O conselho mais geral que consegui pegar é ferver em água salgada por pelo menos 5 minutos, descartar a água, enxaguar e depois refogar.

Li que as toxinas desse cogumelo são destruídas se atingirem a temperatura de 65º C – porém em outros sites li que seria de 80 a 90ºC. De qualquer forma, fervendo por 5 minutos é certo que atingirá estas temperaturas. Esse passo de ferver sempre achei meio estranho, pois imaginava que o cogumelo ia virar uma papa se cozido por 5 minutos, rs. Então estava bem curiosa pra ver o resultado.

Li também uma receita em que a pessoa refogava por 5 minutos, depois adicionava um creme de leite e deixava cozinhando por mais 5 a 10 minutos – nessa caso em nenhuma etapa ela descartou a água. Ela também só usou os chapéus e descartou o estipe, coisa que não vi mencionado em nenhuma outra receita.

Enfim, dá pra perceber como esse tópico é bem confuso, mas parecem que existem várias maneiras diferentes de preparar esse cogumelo de forma segura, e muita gente em países do hemisfério norte (de onde ele é nativo) aprecia e faz uso dele.

Inclusive também descobri que até o Amanita muscaria, conhecido por suas propriedades alucinógenas, também é consumido como alimento por alguns povos após um preparo similar que elimina suas toxinas.

Preparando e experimentando Amanita rubescens

Cogumelos cortados e fervendo com água e sal

Primeiro selecionei alguns cogumelos maduros que tinha coletado, retirei qualquer sujeirinha e terra deles e cortei em fatias grossas de diferentes tamanhos, pra testar como ficariam mais saborosos. Deixei alguns pedaços do estipe para provar também, não só os chapéus.

Segui o conselho mais geral e fervi por 5 minutos com um pouco de sal, depois descartei a agua e tentei dar uma enxugada neles para tirar o excesso de umidade, só apertando eles levemente e escorrendo. Para minha surpresa eles não viraram uma papa, rs. Ficaram com uma textura um pouco mais “gosmenta” mas ainda sim bem firme! E outra coisa interessante é que eles emitem um cheiro de batata quando estão cozinhando.

Cogumelos depois da fervura, textura meio estranha mas ainda firme

Depois refoguei com um pouco de óleo, sal e pimenta do reino por mais uns 5 minutos em fogo médio até eles começarem a ficar douradinhos. No fim mantiveram uma textura bem carnosa, mas ainda sim estranha por ser algo que não estamos acostumados. Tinham um gosto bem suave, nada muito marcante.

Destes que preparei comi só 3 pedacinhos e o marido só 1 pedaço, e o resto descartamos, pois como foi a primeira vez experimentando esse cogumelo não queríamos exagerar. Eu acabei fazendo uma quantidade maior porque estava com medo de alguns se desintegrarem na hora da fervura, mas todos sobreviveram, rs.

Refogando na frigideira com um pouco de sal e pimenta e depois o resultado final!

De qualquer forma, mesmo cogumelos considerados comestíveis podem causar reações alérgicas em pessoas sensíveis, por isso é recomendável sempre provar em pequenas quantidades primeiro.

A partir desta receita básica é possível adicionar em outros pratos, molhos, etc. Mas sinceramente não achei tão apetitoso assim para seguir consumindo, rs. Mas talvez teste alguma outra receita no futuro. Fiquei imaginando se desidratado não seria interessante, mas não achei nenhuma informação sobre se seria seguro consumir ele assim.

É um cogumelo controverso e com certeza não recomendado para quem não tem certeza absoluta da identificação e que não tenha conhecimento do modo de preparo seguro. Um dos maiores riscos de consumi-lo é o fato de fazer a identificação errada, pois existem algumas outras espécies do gênero Amanita que são parecidas e super tóxicas, mesmo sendo cozidas a alta temperatura.

⚠ Neste artigo apenas compartilho minha experiência, porém de forma alguma recomendo o consumo deste cogumelo a quem não tem bastante conhecimento e prática no assunto. Procure sempre informações e guias de especialistas antes de decidir consumir qualquer cogumelo selvagem.

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